E a volta às aulas?

Escrito por: Ester Borges

O ano de 2020 tem sido atípico e cheio de incertezas, e para a educação infantil não foi diferente. Há muitas dúvidas acerca do impacto do COVID 19 na saúde, desenvolvimento e na educação das crianças. “Quando voltam as aulas presenciais? E se voltarem, devo deixar meu filho frequentar a escola?”. Essas são algumas das dúvidas e esse texto tem o intuito de colocar alguns pontos para que vocês, pais e professores, possam refletir sobre o tema.

Crianças na primeira infância (0-6 anos) estão no ponto mais alto do aprendizado. Elas são como esponjas que absorvem todos os estímulos ao seu redor. Por isso a escola nessa fase é tão significativa. Conviver com outras crianças e serem estimulados por professores a todo o momento faz toda a diferença no crescimento e desenvolvimentos delas. Por isso a preocupação com esse ano de ensino a distância. Será que todas as crianças estão sendo estimuladas por seus pais e familiares da mesma forma? O que isso trará de consequências para o futuro no aprendizado e desenvolvimento dessas crianças?

A quarentena trouxe alguns problemas. Ficar com casa com as crianças 24 horas por dia, trabalhar, fazer as tarefas domésticas e ainda assegurar que os pequenos tenham sua dose de estímulo do dia não é tarefa fácil. E em alguns dias (ou quase todos) não conseguimos dar conta de tudo. Com isso, podemos notar a mudança de rotina da maioria dessas crianças: a diminuição no tempo de atividades ao ar livre e interação com outras crianças, o aumento no tempo de tela (uso de computadores, celulares, tablets e televisão), a piora na qualidade da alimentação, ganho de peso, falta de horários para dormir, dentre outras mudanças. Como essa piora na rotina vai influenciar o desenvolvimento das crianças? Ainda não sabemos, mas provavelmente vão haver algumas perdas proporcionais à falta de estímulo e rotina.

Por isso a preocupação e urgência na volta às aulas. Ainda não sabemos bem como e nem quando as aulas retornarão. Mas com isso surgem alguns questionamentos sobre a possibilidade de as crianças ficarem doentes e transmitirem COVID para os familiares, sendo alguns deles grupo de risco. Agora, em novembro de 2020, sabe-se que crianças e adultos têm a mesma chance de serem infectados. Porém, por algum motivo ainda desconhecido, as crianças manifestam menos sintomas e menos quadros graves (com necessidade de internação) quando comparados aos adultos. Como no Brasil temos testado apenas as pessoas que apresentam sintomas, há provavelmente um quadro de subnotificação de casos de COVID 19 em crianças. Ou seja, ter menos casos nas contagens oficiais não quer dizer que há menos casos de fato, apenas eles não foram testados para serem contabilizados. Vê-se também o aumento de alguns casos graves de vasculites (doenças de inflamação dos vasos sanguíneos) com necessidade de internação, muito provavelmente relacionados ao COVID nas crianças. Então, que cuidados devemos tomar na volta às aulas para que possamos continuar a protege-los?

Discussões nesse sentido já estão acontecendo e algumas ideias surgiram como retornar às aulas presenciais em grupos menores, alternando com o ensino a distância, fazer atividades em locais abertos e bem ventilados, os quais possibilitem certo distanciamento entre as crianças e melhorar a rotina de limpeza dos locais. Também será preciso desenvolver estratégias que envolvam a atenção básica em saúde para fazer o manejo de funcionários e crianças possivelmente doentes.  Outro ponto a ser considerado diz respeito ao cuidado com a convivência com pessoas do grupo de risco (idosos, hipertensos, obesos e outros). Caso haja o retorno às aulas, devemos tomar o máximo cuidado no tocante ao contato das crianças e dessas pessoas, dentro do possível. São essas pessoas com quem devemos nos preocupar.

Nesse meio tempo, ficamos com as atividades à distância tentando ao máximo manter a rotina das crianças com horários fixos para cada atividade (acordar, dormir, se alimentar, brincar sem tela, brincar com tela e fazer as tarefas ou atividades sugeridas pela escola). Isso irá minimizar o impacto da quarentena nas crianças e seu desenvolvimento. Também é importante manter a vacinação e as visitas médicas periódicas, o COVID está aí, mas todas as outras doenças também estão! Então temos que nos cuidar.

A Sociedade Brasileira de Pediatria liberou nota apoiando um guia (em inglês) recém lançado por líderes da Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Nesse guia as entidades alertam para os prejuízos do fechamento prolongado das escolas e já se posicionaram favoravelmente a volta às aulas juntamente com medidas para evitar a disseminação do vírus. A OMS relata que em países em que as escolas foram reabertas não houve aumento significativo dos casos de COVID 19, com exceção de Israel. Já o Conselho Nacional de Saúde, em setembro 2020, se posicionou favorável ao retorno as aulas apenas quando a situação epidemiológica estiver estável.

Se as escolas vão abrir agora ou só quando tiver vacina, ainda não temos como saber. Ficamos à mercê da política e da discussão dos grandes. Enquanto isso vamos fazendo o possível para auxiliar o desenvolvimento das crianças em casa e apoiar vocês, cuidadores das crianças, na passarem por essa fase da forma mais leve possível. Estamos à disposição para dúvidas e questionamentos.

Caso queiram saber mais sobre o uso de máscara em crianças, tempo de tela recomendado para cada idade e os riscos do uso exagerado, amamentação, alimentação, atividades físicas, vacinação e outros temas relacionados à saúde das crianças, comentem aqui com suas dúvidas que iremos disponibilizar mais conteúdo para vocês.

Até a próxima!

Fontes:

https://www.sbp.com.br/index.php?eID=cw_filedownload&file=815

http://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/1355-recomendac-a-o-n-061-de-03-de-setembro-de-2020

https://www.unicef.org/media/68886/file/PORTUGUESE-Framework-for-reopening-schools-2020.pdf

https://www.who.int/publications/i/item/considerations-for-school-related-public-health-measures-in-the-context-of-covid-19

Share on: