Escrito por Dâmaris Simon Camelo Borges
PARTE 2
Olá, pessoal!
Na última edição do Blog, iniciamos uma conversa a respeito do desenvolvimento da atenção e sua relação com a educação infantil. Vimos o desenvolvimento no período de 0 a 3 anos e nessa edição, vamos ver a segunda parte do artigo que aborda a continuidade desse processo de desenvolvimento a partir dos 3 anos.
Como vimos no artigo anterior, mediados principalmente pelos adultos significantes, a criança parte da atenção baseada em mecanismos inatos para, gradualmente, substitui-los por processos de controle voluntário.
Entendendo que as idades não são marcos desenvolvimentais rígidos, mas que, por serem muito dependentes da organização do meio social que, aceleram ou retardam o processo de desenvolvimento, vemos que por volta dos 3 a 4 anos começam as brincadeiras de faz de conta, tão conhecidas na educação infantil! Surge a vontade de se fantasiar de pai, de mãe, imitar o que eles fazem, dessa vez, não mais simplesmente para conhecer os vestidos, sapatos, ferramentas, objetos de cozinha, computadores, mas, para entenderem o que as pessoas estão fazendo quando agem como agem. E olha gente! vejam de onde surgiu a ideia das brinquedotecas com cantos!!! Não é simplesmente dar conteúdos, dar brinquedos aleatórios e esquecer da criança, é muito mais do que simplesmente organizar os brinquedos em prateleiras por categorias, é organizar meios de convivência onde elas possam interagir e explorar o mundo ao seu redor.
Com um maior domínio da linguagem, movimentando-se com autonomia, a criança indica objetos de seu interesse e começa a emitir comandos verbais para ela mesma; a atenção se torna ativa, as crianças combinam brincadeiras e elas necessita lembrar-se dos papéis, não podendo “distrair-se”; necessita focar a atenção nos objetos, nas ações e na sua interpretação. Essa submissão ao papel que ela vai desempenhar na brincadeira, exige da criança a capacidade de refrear impulsos, diante da vontade de fazer algo de diferente. Relacionando-se com seus pares, a criança é impulsionada no seu processo de desenvolvimento, sendo obrigada a se autorregular para poder permanecer na brincadeira e ser aceita.
Aceitar e cumprir as regras da brincadeira significa controlar seu próprio comportamento, aprendendo a subordiná-lo a um propósito, direcionando e mantendo a atenção. E elas não só se divertem brincando de escolinha, da profissão dos pais, de casinha, mas, se desenvolvem tentando entender, quando se fantasiam de mães, por exemplo, porque as mães agem dessa ou daquela maneira; e no processo de assumir o papel da mãe, são obrigados a centrar a atenção.
Olhando para a totalidade do processo, do nascimento até essa primeira etapa da educação infantil, salta aos olhos a importância do adulto cuidador, seja ele pai, mãe, professora, avó ou qualquer outro que lhe tenha cuidados e afeto e das crianças que a rodeiam no seu processo de socialização. Os sujeitos que cercam a criança na primeira infância, vão dar os parâmetros de seleção dos estímulos do meio em que ela vai prestar atenção.
Por volta dos 4 ou 5 anos, tem início o contato com materiais pedagógicos como papel, lápis, tesouras e o desenvolvimento de atividades produtivas como o desenho, a pintura, entre outros e, inicialmente a atenção é voltada ao prazer de experimentar os materiais, para imitar os adultos, para cumprir uma finalidade dada pelo adulto e sem prever o resultado; aos poucos o processo se inverte e a atenção se volta para o processo produtivo e criador, tendo o adulto como colaborador.
É muito importante entender que na educação infantil, a criança ainda não é capaz de regular a sua atenção com firmeza, submetendo-a à sua vontade e, depende muito da mediação do adulto, que direcionará sua atenção para o essencial ajudando-a a estabelecer relações entre os indícios importantes para a resolução das atividades. Ainda na fase do pensamento concreto, ou seja, que precisa do objeto para pensar sobre ele, ela está começando a formar signos e representações mentais das suas vivências e do meio à sua volta, ou seja, está começando a pensar no objeto mesmo na ausência do mesmo.
Dos sete aos onze a doze anos, o estudo dá o tom das atividades; surgem novas tarefas de desenvolvimento vinculadas à apropriação de conceitos de linguagem escrita, matemática, geografia, ciências naturais, história e outras; e junto vem um grande conflito: a escola exige que a criança aprenda conteúdos que não lhe interessam ou pelo menos, não de imediato e aos poucos, ela aprende a direcionar e manter firmemente a atenção no que for necessário e não apenas no que for exteriormente atrativo.
Com o desenvolvimento da linguagem acontece um grande salto nos processos perceptivos, e isso é muito importante de se entender, nesse processo, a criança torna-se capaz de ter imagens mentais, signos e por consequência, direcionar a sua atenção para conteúdos abstratos. Em resumo, ela já é capaz de imaginar um carro, por exemplo e, mesmo sem nunca ter dirigido, rever as ações do pai quando entra no carro para sair dirigindo, dando um exemplo acadêmico, ela já tem a capacidade de fazer cálculos mentais, não precisa mais dos dedos ou objetos para fazer operações matemáticas. Isso, é óbvio, se ela tiver passado pelo desenvolvimento desse processo.
O desenvolvimento da linguagem evidencia-se como chave para a orientação da atenção para um objeto ou ação, sintetizando e analisando o fato percebido. Por que direcionando a atenção e sintetizando? Porque ao rever mentalmente a imagem de um carro e o pai dirigindo, ela seleciona em meio aos estímulos todos que vierem à mente, os que se mostrarem mais relevantes para as suas necessidades e interesse no momento.
Mas, isso não é tudo! Percebe-se ainda como fundamentais para o direcionamento da atenção, ações imperativas para o professor como a explicitação dos objetivos das tarefas, os passos necessários para executá-la, a organização do ambiente, a correlação entre os conceitos a serem aprendidos com esquemas conceituais já aprendidos, mas agora, as coordenadas são dadas, não mais pela fala egocêntrica, mas, pelo professor.
O percurso do desenvolvimento da atenção é longo e como vimos, depende da forma como os meios educativos no lar, na escola ou em outros ambientes formativos são organizados para que ela passe de uma forma de atenção involuntária para uma forma voluntária. E o mais importante!
Em resumo meus amigos, se queremos uma criança mais atenciosa:
– Entenda que a exploração do meio, de materiais, roupas, objetos, faz parte do desenvolvimento;
– Demonstre interesse pelas atividades das crianças, lúdicas e escolares;
– Forneça materiais escolares para que elas possam explorar à vontade: lápis, papel, livros, tintas, ábacos, entre outros;
– Entenda que a criança provavelmente ainda não tem interesse pelas matérias escolares. Cabe aos professores e pais, mostrar o brilho nos olhos por cada fase de aprendizagem; se vocês não gostarem, provavelmente eles também não vão gostar;
– Não se preocupe se você não sabe nada dos assuntos que eles trouxerem, mas, mostrar curiosidade e despertar questões interessantes junto à criança, vai fazer toda a diferença.
E por falar em curiosidade, vamos encerrar esse artigo com uma sugestão: publicamos um texto bem interessante aqui no Blog sobre a “curiosidade”. Vale a pena ler! Ajudará a entender a questão da atenção e outras vinculadas ao desenvolvimento das crianças.
Até mais!
Para aprofundar no assunto:
EIDT, Nadia Mara; TULESKY, Silvana Calvo; FRANCO, Adriana de Fátima. Atenção não nasce pronta: o desenvolvimento da atenção voluntária como alternativa à medicalização. Nuances: estudos sobre educação, Presidente Prudente, v. 25, n.1, p. 78-96, jan./abri. 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.14572/nuances.v25i1.2759>. Acessado em 05/03/2021.
Aula 7 | Aspectos neuropsicológicos e conceituais da atenção