Saulo Simon Borges*
Em um Brasil marcado pela rica diversidade cultural, a valorização da cultura indígena se torna essencial para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Nesse contexto, a educação assume um papel fundamental ao utilizar de autores e artistas indígenas em seus currículos, promovendo o reconhecimento e o respeito à ancestralidade indígena.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhece a importância da educação indígena, orientando a construção de currículos diferenciados e bilíngues que valorizem os saberes e práticas dos povos originários. As habilidades da BNCC, inclusive, contemplam o estudo crítico da história e da cultura indígena, promovendo a compreensão da diversidade e da contribuição indígena para a formação do Brasil.
No entanto, frequentemente observa-se que tais culturas são exploradas de maneira estereotipada e são utilizadas referências artificiais sobre os hábitos e conhecimentos dessas populações.

A falta de materiais didáticos adequados e a invisibilidade de autores indígenas nas escolas ainda representam desafios para o ensino das culturas originárias. Essa realidade reforça a necessidade de encontrar formas com os professores para lidar com a temática de forma crítica e reflexiva, além de promover a produção e a difusão de materiais didáticos que valorizem a cultura indígena.
Nesse sentido, a literatura indígena se apresenta como uma ferramenta para o ensino das culturas originárias. Através da leitura de livros, contos, poemas e outras formas de expressão literária, os alunos podem se conectar com a cosmovisão indígena, conhecer suas histórias, crenças e valores, além de desenvolver a empatia e o respeito pela diversidade.
Diversos autores e artistas indígenas contemporâneos estão produzindo obras literárias de alta qualidade, abordando temas como a relação com a natureza, a luta por seus direitos, a preservação da cultura e a identidade indígena.
Obras como “Redondeza’, de Daniel Munduruku, convida os leitores à aproximação e encontro com as crianças e infâncias indígenas. Através das narrativas do texto e das imagens, percorremos lugares de viver e pertencer apresentados por várias crianças, do ponto de vista deles. É um exemplo de livro que pode ser utilizado em sala de aula para promover o ensino da cultura indígena de forma rica e envolvente na educação infantil.

Essa e outras obras podem ser encontradas, por exemplo, na livraria Maracá, especializada em literatura indígena produzida no Brasil. O catálogo conta com obras de escritores de diferentes povos e regiões do país, que compartilham seus conhecimentos, tradições e histórias através da escrita.
Não apenas através da literatura escrita, mas também pelas histórias podemos educar e disseminar sentidos de vida da nossa população. É justamente essa a atuação do Museu da Pessoa que se propõe como um museu virtual e colaborativo de histórias de vida. Propagam, inclusive, uma metodologia de ensino baseada na utilização de histórias e oferece materiais e uma trilha formativa sobre essa prática. Clique aqui para saber mais.
Dentre as histórias cultivadas pelo Museu é possível fazer uma busca pelos “povos indígenas” e encontrar diversos relatos sobre suas histórias, práticas, conhecimentos e visões. Essa seria mais uma prática educativa a ser incorporada nos currículos para serem desenvolvidas ao longo do ano.
Ao integrar a literatura e cultura indígena na educação, podemos:
- Promover o respeito à diversidade cultural: Reconhecendo e valorizando a cultura indígena, combatemos o racismo e a discriminação, construindo uma sociedade mais justa e inclusiva.
- Descolonizar o saber: A literatura indígena apresenta uma visão de mundo diferente da eurocêntrica, possibilitando aos alunos uma análise crítica da história e da sociedade brasileira.
- Enriquecer o ensino: A literatura indígena oferece uma gama de conteúdos ricos e diversificados, que podem ser utilizados para trabalhar diferentes áreas do conhecimento, como língua portuguesa, história, geografia, artes e ciências.
- Despertar a empatia: Através da leitura, os alunos podem aproximar dos desafios enfrentados pelos povos indígenas, desenvolvendo o senso de responsabilidade social.
- Promover a interdisciplinaridade: A literatura indígena pode ser utilizada como ponto de partida para projetos interdisciplinares, que integrem diferentes áreas do conhecimento e promovam uma aprendizagem mais significativa.
- Incentivar a leitura e contato com autores e artistas indígenas nas escolas é um passo fundamental para construir uma educação mais justa, inclusiva e de qualidade.

Saulo Simon Borges é Diretor do Instituto Espírita Paulo de Tarso com as funções de Presidente, 2021, mestre e graduado pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP.
Referências:
https://www.instagram.com/centroetnicoracial?igsh=MWFmZTM5N2R3ZjV2MQ%3D%3D