O poder do Pensamento

*Edna Maria Marturano

Você acredita em telepatia? Na força da mente ou no poder do pensamento? De acordo com a visão espírita, o pensamento é tema essencial à nossa segurança e ao nosso bem estar. Este é um texto introdutório sobre como o Espiritismo concebe o ambiente mental em que vivemos, os processos e a natureza do pensamento, as raízes da comunicação mente a mente e algumas de suas consequências para a nossa vida prática.

Como peixes no Ocenao

Assim como a atmosfera onde respiramos está saturada de gases que não vemos, estamos envolvidos em uma “atmosfera espiritual”, ou psicosfera, saturada das emanações mentais dos habitantes do planeta, encarnados e desencarnados. Vivendo como peixes no oceano, nós nos nutrimos dos pensamentos uns dos outros.

Como isso se dá?

A usina e a chama

A Física nos ensina que a matéria, em todo o universo, não é compacta como parece. Ela é um tecido imenso de partículas, em movimentos ondulatórios com frequências diversas.

Assim, no universo mental as coisas se passam de forma semelhante. Nossa mente funciona como poderosa usina geradora de imagens que ela projeta na nossa aura: são nossos pensamentos. Essas imagens mentais, dotadas de movimento, são tecidas em ondas que, por analogia, podemos comparar às projeções da TV. Como a chama de uma vela, as emanações da nossa mente se irradiam, compondo um campo de influência ao nosso redor.

Dessa forma, conforme o teor das emoções e dos sentimentos que tonalizam os pensamentos de alguém, as ondas emitidas terão frequências diferentes. Espíritos da estatura de Jesus ou Francisco de Assis, que sentem e pensam amorosamente, irradiam ondas de altíssima frequência; já os que cultivam sentimentos egoístas geram ondas longas. Como no universo físico, ondas mentais não se misturam, mas se combinam por sintonia.

Conexão espontânea e imediata

Geralmente, para sintonizar um canal na TV, nós acionamos o controle remoto; no celular, digitamos um código. Na vida mental essa sintonização é compulsória, contínua e de amplo espectro.

Portanto, cada ideia que formulamos estabelece conexão espontânea e imediata com todas as mentes, ao redor, que alimentam a mesma ideia, movidas por sentimento semelhante ao nosso, qualquer que seja – ternura, raiva, tristeza, alegria, angústia, fé… Por isso, a força e a permanência dessa conexão dependem da intensidade e da persistência com que os participantes nutrem a emoção e a ideia compartilhada.

A mente humana seria, assim, como uma estação emissora e receptora de TV que não desliga nunca, pois até durante o sono opera esse mecanismo de trocas vibratórias, com base na sintonia e na afinidade. Ou seja, ao emitir um pensamento, projetamos nossa influência e recolhemos de volta a influência dos que acolhem automaticamente essa ideia, por pensarem e sentirem como nós. E vice-versa.

Desse processo participamos todos, encarnados e desencarnados. Mesmo à distância, a ligação mental perdura enquanto perdurar a afinidade.

Pensar e sentir na psicosfera terrestre

Uma importante consequência da sintonia espontânea é a potencialização das emoções envolvidas, já que toda ligação mental realimenta os sentimentos em comum dos que dela participam. Simplificando: quem cultiva tristeza tende a ficar cada vez mais triste; quem cultiva gratidão, cada vez mais grato; quem é agressivo, cada vez mais agressivo; e assim por diante. 

Com o tempo, pode haver consequências para a saúde e o bem estar. É bem conhecida a influência das emoções no funcionamento do organismo, como é o caso, por exemplo, da ansiedade persistente, que enfraquece o sistema imune.

Assim, parece que a balança do ambiente espiritual terrestre pesa mais no prato das emoções perturbadoras. Imaginemos por um instante a natureza dos pensamentos que inundam a psicosfera terrestre. Será que prevalecem os de amor ou os de ódio? De bondade ou de malícia? Os temas que circulam na conversação comum ilustram nossas preferências coletivas: fale sobre tragédias, assuntos picantes ou escândalos e a maioria dos circunstantes se envolverá animadamente na prosa. Contudo, fale sobre um projeto de serviço à comunidade e raros se interessarão.

E assim, com o predomínio de emanações mentais psiquicamente desequilibradas ao nosso redor, pensamentos tonalizados em emoções negativas (medo, raiva…) rapidamente ganham força e retornam a nós com poder de indução potencializado. Ao contrário, pensamentos entretecidos de emoções positivas (esperança, alegria…) precisam de mais persistência para se fortalecerem. 

Pensamento e destino

Nesse jogo de influências, vale a pena investir no esforço de usar o poder mental a nosso favor.

Selecionar o alimento mental que consumimos é importante! É trabalhoso, mas não impossível estarmos atentos ao nosso modo de sentir e pensar, buscando equilibrar emoções, educar sentimentos e elevar ideias e aspirações, para sintonizar com mentes enobrecidas, quer encarnadas ou desencarnadas. Enfim, acionar o dispositivo da vontade própria para assumir o controle remoto das nossas ligações mentais, assegurando boas companhias espirituais.

Então, o que dizer da prerrogativa de todo ser humano, de construir o próprio destino?

Conforme falamos, o pensamento cria a vida que buscamos[1]. Na esteira do poder mental, desejos insistentemente cultivados podem se concretizar, caso a pessoa persista no propósito de satisfazer seu anseio, por meio de ações concretas. “Buscai e achareis”, disse Jesus[2]. Toda pessoa que se esforça por atingir o que deseja irá captar espontaneamente, na psicosfera terrestre ou além dela, ideias compatíveis com seu desejo. Ela terá intuições que vão orientar suas iniciativas na direção almejada.

O pensamento cria a vida que buscamos. Na esteira do poder mental, desejos insistentemente cultivados podem se concretizar, caso a pessoa persista no propósito de satisfazer seu anseio, por meio de ações concretas.

Mas, cuidado! É sempre prudente avaliar a conveniência dos nossos desejos e das nossas escolhas. Veja o caso mitológico do Rei Midas: ele pediu ao deus Dioniso que tudo que tocasse se transformasse em ouro. Foi atendido e ficou felicíssimo. Entretanto, logo percebeu que a graça recebida era uma maldição, quando foi abraçar sua filha amada, ainda criança (mito-do-rei-midas).  Nem sempre o que desejamos e buscamos nos convém.

O grande desafio então é o de colocar o poder criador da mente a serviço dos nossos reais interesses.

E quais são os nossos reais interesses?

Pensemos nisso, lembrando que somos Espíritos imortais e que o futuro depende das escolhas de hoje.

*Edna faz parte da Diretoria do IEPT, sendo atualmente 2ª tesoureira.


[1] Emmanuel. Pensamento e Vida. Psicografia F. C. Xavier. Ed. FEB.

[2] Mateus, 7: 7. O Novo Testamento. Trad. J. F. Almeida. Ed. SBB.