A importância do brincar livre e orientado na educação infantil

*Dâmaris Simon Camelo Borges

O brincar livre e o brincar orientado são dois termos bastante usados na educação infantil e na creche.

Estando em um período de transição entre a pedagogia tradicional, centrada no professor e no conteúdo e a pedagogia em participação centrada na experiência e na criança, essas duas expressões geram cuidados na sua utilização por serem passíveis de diferentes interpretações. 

Brincar livre não é ausência de intenção

Durante um bom tempo a expressão brincar livre foi interpretada como sendo necessário deixar as crianças totalmente livres, sem nenhuma espécie de organização, de intenção pedagógica ou acompanhamento didático do professor, tendo um potencial muito menor de trabalhar habilidades importantes para a aprendizagem, como por exemplo, a atenção, o pensamento crítico, o raciocínio lógico, a inferência, entre outras. Não desmerecendo a importância dessa forma de “brincar livre” em um ambiente escolar, incluindo-se a creche, o brincar livre da proposta pedagógica que temos adotado tem outra conotação e por boas razões, um valor didático pedagógico muito mais adequado ao processo de aprendizagem. Sendo centrado na criança, ele tem uma intenção pedagógica em seu cerne, manifestada através do olhar do professor e da organização do espaço educativo.

O papel do professor no brincar livre

O professor observa, lê nas ações das crianças o seu foco de interesse, para onde está dirigida a sua curiosidade e com base nisso organiza o espaço de brincadeiras, promovendo um local onde a criança possa fazer suas experiências, testar hipóteses, fazer inferências, fazer deduções; o professor fica atento para que sejam experiências com materiais diversificados, representativos da nossa cultura.

É nesse espaço cuidadosamente planejado que a criança, aí sim, vai brincar livre, fazer suas experiências com os materiais, sob o olhar atento do professor.

Esse olhar atento permite, por exemplo, que ele esteja preparado para intervir diante de conflitos entre as crianças, ensinando-as a negociar e desenvolver valores prossociais.

Mas não só. A observação continuada permite ao professor apreciar o interesse das crianças sobre o espaço organizado, atento para antecipar onde ele pode intervir para ampliar as experiências que despertaram o interesse das crianças; identificar quais materiais e/ou brinquedos despertaram muito ou não despertaram a curiosidade das crianças e assim por diante.

Brincar orientado com leveza e sentido

Já a expressão “brincar orientado” induz a pensar mais na atividade lúdica onde o professor é o autor da ideia/atividade, mostra as regras, define os limites, traça objetivos bem definidos. Na proposta que está sendo implementada, o modelo referido acima de “brincar orientado” não cabe mais. Então nunca acontece de o professor procurar uma atividade bem definida, com regras claras, objetivos rígidos? É mais difícil! Mas pode acontecer de o professor se valer de alguma oportunidade para propor, sim, atividades que interessam às crianças e fazem sentido na proposta pedagógica. Por exemplo, o professor no parque com as crianças lembra-se de uma música divertida, que propicia  a participação pessoal de cada um, e começa a interagir com as crianças. O espaço espontâneo pode surgir nas interações diárias, na roda de conversa, ou mesmo na hora da leitura, ou no projeto alimentação desenvolvido imediatamente antes de as crianças irem se alimentar, o cuidar de uma horta incentivando hábitos para uma alimentação saudável ou hábitos de higiene.

*Dâmaris é autora do livro
Alfabetização em Valores Humanos e também
diretora do IEPT, orientando a equipe docente
com formações continuadas