Edna Maria Marturano*
Por que sofremos? Essa é talvez uma das mais antigas perguntas que o ser humano se faz. Há séculos, filósofos e religiosos se debruçam sobre o tema, até porque, desde que o mundo é mundo, estamos todos sujeitos a mudanças que causam dor.
Como diria Leandro Gomes de Barros, o grande poeta paraibano: “Se eu conversasse com Deus/ Iria lhe perguntar:/ Por que é que sofremos tanto/ Quando se chega pra cá? (quem-foi-temperar-o-choro)”
O sofrimento humano é estudado de forma aprofundada no Espiritismo. Nos seus escritos, vamos encontrar reflexões sobre as agruras da vida, a busca de sentido para os males inevitáveis e sugestões práticas para escapar dos males evitáveis.
O consolo dos que choram
A visão espirita do sofrimento tem sua base no Evangelho. “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”[1], disse Jesus.
Bem-aventurado significa feliz, afortunado, abençoado. Mas quem chora está sofrendo. Como pode alguém sentir-se feliz na dor?
Vamos tentar entender.
Jesus promete consolo. E cumpre a promessa com a própria ressurreição. A ressurreição de Cristo veio confirmar a certeza na vida após a morte. Essa é a consolação dos que sofrem sob os golpes do destino. É como se Jesus dissesse: “Se você está sofrendo, console-se pensando que você vai sobreviver a tudo e será feliz na vida eterna”.
Um sentido para o sofrimento
O Espiritismo agrega a essa certeza do futuro uma nova consolação: a de saber que as agruras da vida são fatores de progresso espiritual.
A doutrina espírita ensina que somos espíritos eternos em evolução. Para alcançar a perfeição, precisamos enfrentar desafios e problemas.
Com esse objetivo, encarnamos e reencarnamos muitas vezes. As dificuldades da vida terrena nos obrigam a sair da zona de conforto e nesse movimento vamos crescendo.
É como um estudante de medicina: a cada final de ciclo, as provas práticas avaliam se ele aprendeu o que precisa saber para exercer a profissão com segurança.
Podemos então reescrever as palavras do Mestre no Sermão do Monte: “Se você sofre, você é feliz porque a sua dor de agora é degrau acima na escada da evolução”.
Assim, o Espiritismo responde à pergunta “por que sofremos?” explicando para que sofremos. Quem sofre está se iluminando, desde que aceite sem revolta a experiência.
Aflições estranhas
Mas nem todos os que choram são bem-aventurados. Algumas pessoas sofrem por motivos bem estranhos.
A lista desses aflitos voluntários é grande. Aqui, alguém em desespero por não poder se vingar do falso amigo que o prejudicou. Ali, o revoltado contra a doença que ele próprio impôs ao corpo, com excessos ou descuidos.
Nas empresas, vamos encontrar aquele funcionário que se consome de despeito por um colega que obteve merecida promoção. E o outro que sofre porque detesta o emprego.
E as aflições da futilidade? Quanta gente nas redes sociais perde o sono por não poder competir com o luxo dos que expõem a própria extravagância?
É claro que o consolo prometido por Jesus não se destina aos que choram de ódio, orgulho ferido, ciúme, inveja, ambição frustrada, capricho contrariado.
A consolação é para os que choram resignados nas dores impostas pela vida. Quem cria aflições para si mesmo não tem como se consolar enquanto persistir nos sentimentos tóxicos que alimenta.
O convite de Jesus
Jesus, na sua infinita compaixão, não se esqueceu desses aflitos voluntários. Eles estão incluídos no sublime convite: “Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”[2]
Nesse chamado, Jesus não promete anular o peso dos problemas, mas oferece alívio por meio de uma troca. É a permuta do fardo das inquietações humanas pelo jugo suave da mansidão e da humildade.
Se você tem interesse nessa troca, uma sugestão é começar pela leitura dos capítulos V e VI de O Evangelho segundo o Espiritismo[3]. Ler a postagem /os-pobres-de-espirito-/ também pode ajudar.
[1] Mateus, 5:5
[2] Mateus, 11:28-30
[3] Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução L. O. Guillon Ribeiro. Ed. FEB. 2013.
